.
A descoberta rápida de um ‘suspeito’ de ter esfaqueado o médico Jaime Gold, e os desdobramentos do caso, com a negativa do menor “apreendido”, o aparecimento de mais um suspeito e as contradições da testemunha, me trouxeram à mente a famosa fábula de La Fontaine:
O Lobo e o Cordeiro (La Fontaine)
Na água limpa de um regato, matava a sede um Cordeiro,
quando, saindo do mato, veio um Lobo carniceiro.
Tinha a barriga vazia, não comera o dia inteiro.
– Como tu ousas sujar a água que estou bebendo?
– rosnou o Lobo, a antegozar o almoço. – Fica sabendo
que caro vais me pagar!
– Senhor – falou o Cordeiro – encareço à Vossa Alteza
que me desculpeis, mas acho que vos enganais: bebendo,
quase dez braças abaixo de vós, nesta correnteza,
não posso sujar-vos a água.
– Não importa. Guardo mágoa de ti, que ano passado,
me destrataste, fingindo!
– Mas eu nem tinha nascido.
– Pois então foi teu irmão.
– Não tenho irmão, Excelência.
– Chega de argumentação.Estou perdendo a paciência!
– Não vos zangueis, desculpai!
– Não foi teu irmão? Foi teu pai
ou senão foi teu avô –
disse o Lobo carniceiro.
E ao Cordeiro devorou.
Onde a lei não existe, ao que parece, a razão do mais forte prevalece.
(Tradução de Ferreira Gullar)
Digo eu: No caso em foco, talvez caiba a fábula, digo, metáfora. O suspeito nega ser cordeiro, mas afirma que não bebeu a água da Lagoa. Há dúvidas. Certeza mesmo até agora é que o lobo é lobo.