CARTA ABERTA A HILDEGARD ANGEL
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Cara jornalista Hildegard Angel,
Não acreditei quando me contaram que a senhora apresentou sugestões estranhas no seu blog para conter arrastões nas praias da Zona Sul. Fui conferir. Era verdade: – “diminuir drasticamente a circulação das linhas de ônibus e de Metrô no fluxo Zona Norte – Zona Sulâ€; -“caso essa providência não alcance resultado, partir para um plano B radical: cobrar entrada nas praias de Leme, Copacabana, Ipanema, Leblon†[…] “Preços módicos, naturalmenteâ€.Â
Dia desses, outra colunista, Danuza Leão, mostrava-se desiludida: “Ir a Nova York já teve sua graça, mas agora, o porteiro do prédio também pode ir, então qual a graça?â€. E ainda outra, a jornalista Silvia Pilz, a qual, patroa de domésticas, mostrou desdém a pobres em seu blog no Globo, a pretexto de fazer graça.
Cara jornalista, não fiz caso das suas duas colegas, pois estou acostumado com discriminação partida de pessoas sem maior compromisso social. Porém, para mim, o sobrenome Angel está associado à luta pela democracia e pela igualdade. Soou-me como uma traição à memória da famÃlia. De qualquer forma, fiquei imaginando o que poderia tê-la levado ao que considero um ato falho. Certamente, a senhora não escreveu o ‘post’ atinando para o fato de que o mesmo poderia ser lido pelos cÃrculos sociais a que pertencem as “hordas e hordas de jovens assaltantes e arruaceirosâ€, as quais, parece a sua conclusão, seriam procedentes da Zona Norte. Deve ter escrito e publicado o texto pensando no cÃrculo de leitores do seu blog, que imaginava ser constituÃdo apenas por moradores da “orlaâ€. Erro de cálculo, sobretudo partido de uma figura pública, sem contar que algum infiltrado no seu blog poderia vazar para outros cÃrculos o que não era para ser vazado.
Cara Hildegard Angel, todos sabemos que há grande diferença entre o que se conversa em privado no restaurante, em casa ou no clube e o que se deve afirmar publicamente. Em público, faça como a maioria dos que pensam como a senhora: finja que respeita o pobre. Melhor ainda, que gosta de pobre. Diga que foi mal interpretada; que não queria dizer o que disse; que sabe muito bem que as praias são “bens de uso comum do povoâ€, como estabelecem a Constituição e o Código Civil.
Perdoe-me a comparação, mas a leitura do seu texto trouxe-me à lembrança os bantustões da Ãfrica do Sul e os ‘passes’ que os negros deviam portar para circular em Joanesburgo ou na Cidade do Cabo nos tempos do apartheid formal. Pense nisso.
Ainda bem que ninguém, tocado pelo seu texto, veio com a ideia de chamar forças federais para atuar nas praias contra os arrastões…
Em tempo: A propósito de arrastões, refiro pequeno conto publicado há vinte anos, “Arrastão em Ipacabanaâ€. Link: http://www.jorgedasilva.com.br/conto/6/arrastao-em-ipacabana/
Obs. Não moro na Zona Sul.
Att.
Jorge da Silva
Estive na inauguração da escola que homenageia a luta do Stuart Angel e o meu sentimento foi idêntico ao do senhor. As outras duas senhoras que destilaram suas vontades publicamente faz parte do contexto social de racismo velado que enfrentamos. Mas de uma herdeira da luta por um paÃs melhor me deixou pasmo
Caro Luiz Carlos,
O pior é que ela usa os nomes do irmão e da mãe, vÃtimas da ditadura, no seu perfil do blog.
Apesar de ter sido uma manifestação de opinião foi um relato extremamente preconceituoso e ofensivo. Não me surpreendo, mas cabe uma reflexão. Seria este tipo de pensamento algo comum entre os moradores da zona sul? Que fique preso a um pequeno grupo, quero crer. Teria ela pensado que as praias da Zona Sul são privilégio exclusivo dos moradores locais? Lamentável, pior, não vi mobilização na imprensa de uma forma geral sobre este assunto, me parece que está sendo aceitável que o pobre é uma ameaça e deva ser isolado…
BRAVO PROFESSOR!!!
Cara Vera, nem tanto.
Caro Eron, não tenho qualquer dúvida. A maioria dos moradores da Zona Sul pensa como Hildegard. Ora, de onde você pensa que ela tirou essas ideias? Dê uma lida no conto que encaminhei e você entenderá melhor esse ponto.
Meu passado me condena, na visão da Sra. Angel, senão vejamos : eu e mais quatro irmãos, filho de operário do setor ferroviário, mãe do lar, infância e adolescência vividas nos confins de São Gonçalo, estudante da Escola Industrial Henrique Lage, despachado para a Republica Dominicana ( do ladinho do Haiti ) para cumprir missão e o que é mais complicado, PM. Portanto POBRE e desautorizado pela Sra. Angel de molhar minhas pobres canelas nas luxuriantes praias da Zona Sul. Baseado nesta triste condição faço meu comentário a respeito de vossa materia : 5X ( na mosca), N.A.( no alvo ). Obbbbrrriiigggaaadoooooooooooooo!!!!!!!!!!
Caro Wilton, o pior é que são pessoas que teimam em afirmar que o Brasil é um paÃs sem preconceitos; que o Rio de Janeiro é exemplo de harmonia social; que a praia é o sÃmbolo dessa harmonia. É mole?
Caro professor Jorge da Silva,
Eis ai parte de um texto da jornalista Hildegard Angel publicada em sua coluna http://www.hildegardangel.com.br em 20 de fev de 2014 com o tÃtulo:
(É meu dever dizer aos jovens o que é um Golpe de Estado – Escreveu ela “Meu irmão, meu irmão, onde estásâ€? Sequer o corpo jamais tivemos.).
“Outro dia, jantei com um casal de leais companheiros dele. Bronzeados, risonhos, felizes. Quando falei do sofrimento que passávamos em casa, na expectativa de saber se Tuti estaria morto ou vivo se havia corpo ou não, ouvi: “Ah, mas se soubessem como éramos felizes… DormÃamos de mãos dadas e com o revólver ao lado, e éramos completamente felizesâ€. E se olharam um ao outro, completamente felizes. Ah, meu deus, e como nós, as famÃlias dos que morreram, éramos e somos completamente infelizes!“.
Hildegard rasgou a história da luta de Zuzu Angel e do seu irmão militante polÃtico Stuart Angel Jones. Não sou favorável a qualquer tipo de ditadura. Entretanto, ao ler o texto da referida senhora , meu sentimento foi simplesmente de NOJO. “
Sabe professor, espelho-me na verdade na história do meu pai Dr. Jorge Elpidio de Souza, filho de dona Maria da Cruz de Souza, criadora de porcos para o abete que, o educou em uma rua sem calçamento no subúrbio de Madureira. Professor, primeira turma de Ciências JurÃdicas da Universidade Gama Filho, diretor do Lloyd Brasileiro, posteriormente concursado aos 40 anos para Auditor Fiscal Federal, Delegado do Trabalho no Paraná e NEGRO.
Meu pai faz parte de umas centenas de suburbanos que se livraram das correntes ideológicas dos anos 60/70 e foram à luta por um Brasil justo é igualitário.
É isso, Rita. A senhora Hildegard se comporta como a dona Florinda, do seriado Chaves. Detesta a ‘gentalha’.
O estimado compadre foi elegante até demais. Gostei da referência ao “ato falho”, que sempre traduz a verdade que alguém não quer revelar, mas, num escorregão imperceptÃvel, revela. A propósito da abominável opinião da jornalista em destaque, hoje está nos jornais que a PM está “dando geral” nos ônibus da Zona Norte com destino à Zona Sul, para “evitar arrastões” nas praias. Enfim, a elite manda e a briosa obedece de pronto! De caminho na leitura, rubrico na Ãntegra o comentário da Rita Maria Nicola Antunes.
Em tempo: também rubrico o comentário do companheiro Cel PM Wilton, cuja história é semelhante a muitas outras dentre as quais a minha. Criado na Engenhoca, bairro periférico de Niterói, depois de ter perdido meu pai em Campos aos dez anos, ficando órfão com mais quatro irmãos menores, frequentador assÃduo da praia do Barreto, mais conhecida como “praia do cocô”, eu também não poderia sequer olhar uma foto das praias da Zona Sul do Rio, onde, aliás jamais molhei minhas paupérrimas canelas.
Caro Larangeira,
É impressionante o pedantismo de certos setores elitistas da sociedade do Rio de Janeiro, em especial da Zona Sul. A senhora em questão perdeu as travas. Seus pares devem ter-lhe puxado as orelhas. Mas também em privado…
Caro Larangeira,
O problema é que deixam tudo com a PM. Não pensam em alternativas para integras a sociedade do Rio de Janeiro, cidade e estado. É a mesma elite que sempre investiu na segregação social, como se a Zona Sul do Rio de Janeiro fosse uma Mônaco. Aliás, acho que esse é o seu projeto. E eles não percebem que não está dando certo.
Caro Jorge,
Por vias transversas a referida jornalista prestou um grande serviço à causa dos que lutam contra a discriminação. Prefiro acreditar que não seja ato falho e sim que ela saiu do “armário”. Quanto mais pessoas influentes manifestarem as suas opiniões no mesmo sentido, mais oportunidades existirão para discutir a matéria e a possibilidade de incremento de polÃticas públicas igualitárias. Espero que a sua sugestão irônica para em público os hipócritas falarem só o politicamente correto não seja levada a sério por eles.
Caro Adilson,
Ela realmente prestou um grande serviço. Ela se esqueceu de que não estava tomando chá com as vizinhas. Ela não está sozinha no que pensa. Só não deve estar entendendo por que as pessoas que pensam como ela não tenham vindo a público para dizer que ela está correta.
Caro Professor,
A opinião dessa senhora reflete o “ethos” de uma sociedade autoritária, excludente e preconceituosa, cujo sonho de consumo, mal disfarçado pela carapuça de iguladade e liberdade,aproxima-se muito da “SOLUÇÃO FINAL”, adotado pelo nacional socialismo alemão: fim de todos os bandidos, fim de todos os pobres, negros, suburbanos, minorias, etc.
Também não podemos esquecer que um Oficial do último posto da PMERJ, declarou pelo WHATSAP, que o seu padrão, quando fosse o CHANCELER. seria o da Alemanha de 1930.
É de fato assustador!!!
Paulo Fontes
Caro Fontes,
É triste…
Normal. Esquerdista não gosta de pobre. Gosta de pobreza, o que é bem diferente.
Caro Thiago,
Quando se trata de certas questões, não há direita e esquerda, e sim em cima e embaixo.