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Jorge Da Silva é cientista político. Doutor em Ciências Sociais pela UERJ e professor-adjunto / pesquisador-visitante da mesma universidade. Professor conteudista do Curso EAD de Tecnólogo em Segurança Pública (UFF - CEDERJ / CECIERJ). Criado no hoje chamado Complexo do Alemão, no Rio, serviu antes à PM, corporação em que exerceu o cargo de chefe do Estado-Maior Geral. Foi também secretário de Estado de Direitos Humanos/RJ. É vice-presidente da LEAP Brasil ('Law Enforcement Against Prohibition Brazil' (Agentes da Lei Contra a Proibição)).

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COTAS RACIAIS. DE NOVO?

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Nova pesquisa, divulgada na semana finda pela revista ISTO É, confirma achados que outra, publicada na Folha de São Paulo em 23 de dezembro de 2012 (“Pioneira, Uerj vira ´Congo´ depois de implantar cotas”) já revelara: a implantação das cotas, 12 anos depois do primeiro programa na Uerj, não teria acarretado o que os seus opositores diziam.

A Folha se referia à primeira lei a instituir o programa de cotas no País (Lei Estadual nº 3.708/2001, do governo Garotinho). No levantamento do jornal, ingressaram em 2003 na Uerj 34% de cotistas e 66% de não cotistas; e concluíram os cursos 34% de cotistas e 22% de não cotistas. Evasão: 20% de cotistas e 43% de não cotistas.

Já o levantamento da ISTO É refere-se ao Brasil como um todo. Em matéria assinada por Amauri Segalla, Mariana Brugger e Rodrigo Cardoso, lê-se: Por que as cotas raciais deram certo no Brasil”: “Política de inclusão de negros nas universidades melhorou a qualidade do ensino e reduziu os índices de evasão. Acima de tudo, está transformando a vida de milhares de brasileiros”.

Os autores falam em “mitos” e “verdades”.  A seu ver, os “mitos” foram demolidos. Mito 1: As cotas raciais comprometeriam o nível do ensino. E a “verdade”: o desempenho dos cotistas é parecido com o dos não contistas; em alguns casos, superior. // Mito 2: Os cotistas largariam a universidade no meio do caminho. E a “verdade”: no curso de medicina da Uerj, por exemplo, a evasão foi igual. // Mito 3: A pontuação dos candidatos cotistas no vestibular seria muito menor, e ficariam de fora candidatos com notas muito mais altas. E a “verdade”: as notas de corte têm sido muito próximas. // Mito 4: As cotas estimulariam o ódio racial. E a “verdade”: em pesquisa realizada em quatro universidades federais, 90% dos professores afirmaram o contrário.

Bem, pesquisas são pesquisas. Contra ou a favor, não há pesquisadores neutros. Os “mitos” e as “verdades” não correspondem, necessariamente, a racionalizações isentas. Cada um tem a sua verdade. Nos levantamentos mencionados, ficou faltando verificar se os que são contra ou a favor das cotas o são realmente pelas razões explicitadas ou por alguma razão de foro íntimo, inconfessável, alinhada à sua identidade social. Não se espere que alguém vá se convencer do que apontam essas ou aquelas pesquisas e mudar de posição. Não nos esqueçamos de que há interesses em jogo. Neste tema, interesses e razão não combinam. É luta política.

 

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4 comenários to “COTAS RACIAIS. DE NOVO?”

  1. Carlos Alberto Medeiros disse:

    As verdadeiras razões que motivam os adversários dessas medidas até aparecem em cartas de leitores, tipo “dei duro para manter meu filho em boas escolas e agora estão tirando a nossa vaga”. Mas, curiosamente, desaparecem como que por milagre da discussão acadêmica, sob o disfarce da defesa do “bem comum” e dos “valores civilizatórios”, ao lado de previsões apocalípticas e catastrofistas: “Vai haver conflito.” O interessante é que as cotas estão aí há uns dez anos e não há registro de um único peteleco nas muitas universidades que as têm adotado…

  2. Jose Antunes disse:

    Caro companheiro Jorge da Silva,
    Quando a Princesa Isabel, obrigada, assinou a “lei áurea”, e libertou os escravos, o que houve…? Meus tataravós e bisavós, não tiveram direito a nada, foram libertos com uma mão na frente e outra atrás.
    Conglomerados carentes, sem saneamento básico, não tem estudo descente, não tem transporte descente, não tem nada.
    Professores da Rede Pública de Educação recebem “parcos” salários. E, os que ainda estão lecionando na sua maioria smj, vivem sem projetos de reciclagem na área de recursos humanos bem como pedagógico o fazem por ideologia.
    Umas partes da ELITE estão apavoradas. Entretanto, professor Jorge da Silva, isso é um fato. Lutemos, pois, por outras COTAS.
    Não obstante, existem as cotas fraternais, espirituais das quais eu faço parte da sua COTA. Do alto da vossa sapiência tem uma visão altruísta de saber admoestar e compartilhar suas experiências.

  3. jorge disse:

    Caro Antunes,
    É isso mesmo. Um dia vão entender que a saída é a educação.

  4. jorge disse:

    Caro Carlos Alberto,
    Muitos dos opositores das cotas não têm coragem de verbalizar publicamente as verdadeiras razões, recônditas, pelas quais se opõem a políticas de melhor divisão do bolo.

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