VIOLÊNCIA E RACISMO. A QUEM INTERESSA A MATANÇA?
(NOTA PRÉVIA: Transcrevo artigo publicado no jornal O DIA de hoje, 30/09 (OPINIÃO Artigos, p.13), escrito a propósito do relançamento ontem, 29/09, do livro nele referido, na livraria da Eduff, em Niterói).  Â
A QUEM INTERESSA A MATANÇA?
Há 18 anos, quando lancei a primeira edição do meu livro ‘Violência e racismo no Rio de Janeiro’ (Eduff, 1998), o mito racial dava os últimos suspiros, mas questioná-lo ainda podia levar o questionador à prisão por “incitar ao ódio ou à discriminação racialâ€.
A internet não se havia expandido, ao contrário de hoje, quando o número de smartfones ultrapassa 150 milhões, e as redes sociais se multiplicam. Redes há, porém, que desenvolvem novas formas de intolerância. No caso dos negros, presume-se que isso se acentua como resposta à s polÃticas de cotas, introduzidas no Brasil em 2004, na UERJ.            Â
Depois que, em 2012, o Supremo declarou-as constitucionais, elas se expandiram. Atualmente, mais de 30 universidades as adotam, a despeito de forte reação. Outro ponto. Desde 2003 vigora a Lei 10.639, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação para incluir nos currÃculos escolares a temática “História e Cultura Afro-Brasileiraâ€. Mas a lei não decola…
Sintomaticamente, os que lutam por igualdade racial são chamados de “racialistasâ€; os defensores de direitos humanos, de defensores de bandidos; as hordas de “menores†pobres da “periferia†― fora da escola e ou nas ruas ― deixam de ser questão social e, sim, problema de polÃcia, para o que seria preciso reduzir-lhes a maioridade penal e mandá-los para as prisões de adultos.
O quadro atual, portanto, autoriza-nos a sustentar que a violência do Rio e as formas concebidas para contê-la carregam viés discriminatório, pois vitimizam em escala moradores de favelas e periferia. Além de traficantes e jovens policiais mortos na espiral macabra da “guerra à s drogasâ€, pessoas inocentes também morrem nos tiroteios. Crianças ficam sem aulas, tendo que adotar estratégias para não serem atingidas, como deitar no chão da sala.
Tudo sem contar o medo coletivo, no “asfaltoâ€. Mais: dados oficiais mostram que jovens negros são vÃtimas de homicÃdios numa proporção de 2,5 para cada jovem branco, sendo razoável concluir que a premissa levantada há 18 anos provou-se válida. DaÃ, em proveito dos brasileiros de todas as “coresâ€, cumpre reconhecer que uma das saÃdas é fazer hoje o que se deixou de fazer há 128 anos, com a Abolição da Escravatura.