ARMAS OU PESQUISAS? UM MILHÃO DE MORTOS Â
.
Matéria de Época Negócios (16/08) revela que o ministro da Justiça criticou os investimentos em pesquisa na área da segurança pública. Lê-se ali: “Moraes defende menos pesquisa e mais ‘equipamentos bélicos’ em novo governoâ€. A afirmação foi feita na ‘Cidade da PolÃcia’, no Rio, o que empresta sentido ao que falou, devendo-se levar em conta ainda que o ministro, até recentemente, foi secretário da segurança de São Paulo, dirigente maior das polÃcias Civil e Militar. Talvez não falasse a mesma coisa a moradores da Cidade de Deus. A sua fala, portanto, guarda coerência com o pensamento da maioria dos profissionais do setor. Como se sabe, é conhecida a aversão dos policiais a estudos e pesquisas externos. Para os policiais, sobretudo os mais graduados, os acadêmicos, chamados de “policiólogosâ€, nada entendem do labor policial e só sabem criticar, uma crÃtica que fazem aos acadêmicos à s vezes procedente.
Acontece que essa polarização estanca qualquer possibilidade de avanço ― em benefÃcio, não desta ou daquela instituição, deste ou daquele governo, e sim da população. Ora, se os policiais têm aversão à s pesquisas acadêmicas; se as próprias autoridades não as valorizam, corre-se o risco de cair no velho cÃrculo vicioso, interminável, do “mais do mesmoâ€, como alguém já disse. Por que não fazer uso das pesquisas? Será que não têm utilidade?
É possÃvel que o ministro tenha enfatizado a questão das armas em função das reclamações dos policiais (os bandidos armados de fuzis). Com experiência no setor, talvez também valorize os estudos sobre a polÃcia brasileira. De qualquer forma, não posso deixar de mencionar que a sua fala trouxe-me à mente a posição do governador Beto Richa, do Paraná, para quem, quando, em 2012, se pretendia exigir curso superior para o exercÃcio policial, foi contra, tendo declarado à Rádio CBN: “Uma pessoa com curso superior muitas vezes não aceita cumprir ordens de um oficial ou um superior, uma patente maiorâ€. Richa não queria um policial reflexivo. Por quê? As pesquisas também levam à reflexão…
Com relação a mais armas e equipamentos para a polÃcia, a proposta do ministro conforma-se ao cenário de “guerra†atual (sem que se pense na mudança do cenário…). Mas não custa lembrar que a aposta nas armas, em que também apostam os traficantes e bandidos outros, mostra um quadro macabro, como revela o Mapa da violência 2016: homicÃdios por armas de fogo no Brasil: “O paÃs contava [2005] com um total de 15,2 milhões em mãos privadas:  • 6,8 milhões registradas; • 8,5 milhões não registradas; • dentre estas, 3,8 milhões em mãos criminosas.†[…] “ entre 1980 e 2014, morreram perto de 1 milhão de pessoas (967.851), vÃtimas de disparo de algum tipo de arma de fogo.  (p.12)
Bem, o ministro também falou que vai investir em “equipamentos para inteligênciaâ€. Quem viver, verá…