MATANÇA DE PMs NO RIO E A “GUERRA ÀS DROGASâ€
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(NOTA PRÉVIA. Esta postagem complementa a anterior, abaixo, na qual falei do extermÃnio da juventude)
Não passa uma semana sem que a mÃdia traga notÃcias sobre PMs mortos ou feridos, seja em confronto com traficantes de drogas, seja pelo simples fato de serem PMs, mesmo de folga. O aumento dessas mortes é explicado como reação das facções criminosas à implantação das UPPs, o que leva à conclusão de que, mantida a lógica da “guerra à s drogas†no Brasil, muito mais PMs serão mortos, e a mÃdia noticiará mais mortes, não só de jovens PMs mas também de traficantes, supostos traficantes e moradores inocentes de “comunidades†(crianças indo para a escola, ou na escola; senhoras, idosos), atingidos por balas perdidas saÃdas de fuzis dos combatentes dos dois lados. Tudo naturalizado, sem que se vislumbre o fim da matança.
Aà vai pequena amostra da naturalização da matança de PMs:Â
– “Subcomandante da UPP Vila Cruzeiro é morto com tiro na cabeça†(O Estado de São Paulo, 14/03/14);
– “FamÃlia diz que PM da UPP morto estava apreensivo com morte de colegas†(Jornal Extra, 15/03/14);
– “No Rio, UPPs batem recorde de PMs feridos e mortos†(Revista VEJA, 01/05/14);
– “PM é executado na Pedreira e RJ tem mais de 70 policiais mortos em 2014†(G1/O Globo, 19/08/14);
– “Um policial de UPP morre e outros seis ficam feridos em ataques de bandidos†(Jornal Extra, 24/08/14);
– “Metade das mortes de PMs no Rio em 2014 foi em áreas de UPPs†(Jornal Extra, 26/08/14).
Curioso que, a cada sequência de ataques a UPPs e/ou aos PMs, em vez de o governo incluir em sua resposta medidas de reformulação do projeto e de maior proteção aos PMs, responde com o que virou palavra de ordem: “Não vamos recuar!†Ainda: anunciando mais UPPs nos mesmos moldes. E tome enterro de PMs (com honras fúnebres…).
Ainda bem que não se repetiu estranha racionalização de quando, em 1989, o governo do RJ foi questionado pelo repentino aumento do número de mortes de policiais como resultado da polÃtica de confronto da época (“acabar com a violência em seis mesesâ€). O aumento foi explicado como evidência do maior empenho contra a violência dos traficantes, ou seja. mais policiais estavam morrendo porque o governo estaria trabalhando mais, sendo mais eficiente, comparado aos governos anteriores. Tal racionalização foi consignada em veÃculo da Imprensa Oficial do RJ (Cf. Jornal Pronta Resposta: Informativo do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Niterói, 15 de março de 1989, p. 15). Requento observação que fiz em livro de 1998 a respeito desse absurdo, já naquela época preocupado com a vitimização sem sentido dos policiais: “Não a vitimização por parte dos bandidos apenas, mas principalmente a vitimização por parte das autoridades, que os empurram irresponsavelmente para a condição de algozes-vÃtimas.â€
Em suma: em 1989, o problema era acabar com o poderio dos traficantes. E as cobaias do experimento eram os PMs. 25 anos depois, o problema é acabar com o poderio dos traficantes, e as cobaias continuam as mesmas. DifÃcil entender o denodo com que jovens PMs se lançam à guerra como camicazes urbanos, acreditando que vão vencê-la.
Pergunto: será que alguém acredita mesmo que se vai acabar com o tráfico de drogas acabando com os traficantes? Claro que não; logo, o objetivo da “guerra” é outro, inconfessável…