AP 470. ONDE COLOCAR OS CONDENADOS “NÃO CONVENCIONAIS”?
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Os defensores dos direitos humanos e da igualdade social sempre incluíram em seu discurso a crítica das condições do sistema carcerário brasileiro: “O sistema está falido!”; “As prisões são desumanas!”, e por aí vai. Acontece que esse discurso também é o preferido de setores elitistas. Ou seja, discurso politicamente correto, endossado igualmente por juristas, cientistas sociais, empresários etc., mas que não apresenta proposta alguma de mudança no sentido da democratização do sistema. Fala-se apenas em construir mais presídios, mais vagas. Em suma: unanimidade, demonstrando que Nelson Rodrigues estava errado: nem toda unanimidade é burra; há unanimidades sábias, ainda que fingidas, como esta.
Entre os condenados na AP 470, há os que sempre fizeram coro com essa racionalização comportada, na defesa “intransigente” do igualitarismo. Causa espécie, portanto, que, apresentando-se a oportunidade de colocarem em prática as suas ideias reformistas, reivindiquem, ao contrário, tratamento diferenciado, “especial”, como vem acontecendo na Papuda, no DF. Não querem se igualar, nem que suas famílias se igualem em direitos e deveres. Se fossem sinceros, poderiam aproveitar a oportunidade para tentar mudar o sistema. Bastaria exigirem para si e suas famílias tratamento igual ao dispensado aos presos convencionais. Aí sim, comportando-se como “iguais perante a lei”, poderiam liderar um grande protesto não só pela democratização do sistema, mas de toda a sociedade, como afirmam ser o seu objetivo.
De qualquer forma, com essa atitude, os novos condenados prestam grande serviço à Nação: desmascaram mitos, mostrando a natureza elitista e discriminatória da sociedade brasileira e deles próprios. “Bem”, dirão, “farinha pouca, meu pirão primeiro”.
Enfim, o Brasil segue sendo uma monarquia…