foto de Jorge Da Silva

Jorge Da Silva é cientista político. Doutor em Ciências Sociais pela UERJ e professor-adjunto / pesquisador-visitante da mesma universidade. Professor conteudista do Curso EAD de Tecnólogo em Segurança Pública (UFF - CEDERJ / CECIERJ). Criado no hoje chamado Complexo do Alemão, no Rio, serviu antes à PM, corporação em que exerceu o cargo de chefe do Estado-Maior Geral. Foi também secretário de Estado de Direitos Humanos/RJ. É vice-presidente da LEAP Brasil ('Law Enforcement Against Prohibition Brazil' (Agentes da Lei Contra a Proibição)).

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Arquivados em janeiro, 2010

TIJUCA NÃO É LAGOA. O RIO DE JANEIRO É A AP2.1

28 de janeiro, 2010    

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No “post” anterior, abaixo, reiterei a preocupação com a desintegração social do Rio de Janeiro, a qual, a meu ver, vem sendo aprofundada por medidas que, em função das Olimpíadas, têm favorecido, de forma quase que exclusiva, a AP2.1 (Zona Sul) e a Barra. Agora, mais uma gritante evidência desse fato, testemunhada, ou melhor, vivida por este “blogueiro” e alguns colegas da Uerj. Em menos de uma semana, pegamos duas enchentes em frente à Universidade. Após não mais que meia hora de forte chuva, as ruas já estavam inundadas, transformadas em verdadeiros rios. Bueiros entupidos, água dentro das lojas, bares e restaurantes; pessoas com a água e dejetos pelas canelas (caso deste “carioca” do Alemão e de Niterói…); carros enguiçados. Tudo parado, e nada de escoamento, com as pessoas ilhadas. No restaurante em que procuramos nos abrigar, a indignação era geral com o descaso da prefeitura em relação a um problema para o qual a comunidade da Tijuca, Maracanã e adjacências vem pedindo solução há tempos. No dia seguinte ao segundo alagamento, 26 de janeiro, a prefeitura se manifesta, como nos dá conta matéria do Yahoo: “Prefeitura anuncia obra para combater alagamentos na Lagoa“. Conferir o link da matéria:

http://br.noticias.yahoo.com/s/26012010/83/prefeitura-anuncia-obra-combater-alagamentos-na.html

É preciso repartir o bolo de forma mais equânime…

Obs. Se for de interesse, ver “post” abaixo e os “links” ali indicados de outros “posts” sobre o descaso com os problemas da “periferia”.

 

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TRÁFICO SAI DA ZONA SUL…

25 de janeiro, 2010    

… E VAI PARA A ZONA NORTE, NITERÓI E BAIXADA

 

Deu na primeira página de O Globo de ontem, 24 jan.:

“Relatórios da polícia revelam que traficantes de favelas com UPPs estão se refugiando em comunidades da Zona Norte, de Niterói e da Baixada, controladas pela mesma facção. Apesar da acolhida, não podem concorrer com a venda de drogas, e, por isso, passaram a atuar em assaltos a bancos e até seqüestros”.

 

Ora, os “relatórios da polícia” apenas confirmam o que qualquer cidadão atento sabia que ia acontecer. No dia 5 de dezembro passado, dando seqüência a uma série de “posts” em que chamo a atenção para a necessidade de se aproveitar as Olimpíadas e promover a integração do Rio de Janeiro (e não para aprofundar a apartação social), escrevi:

“Tijuca e Vila Isabel se transformaram em região conflagrada pela ação de facções criminosas. Tiroteios diários e mortes à luz do dia colocam os moradores em pânico. Há pouco mais de um mês, traficantes da área chegaram ao cúmulo da ousadia: abater um helicóptero da polícia, matando dois PMs. E continuam lá, impondo o terror inclusive no “asfalto”. Solução: instalar uma “Unidade Pacificadora” em Ipanema, no Morro Pavão-Pavãozinho-Cantagalo. E mais duas, prometidas para a Ladeira dos Tabajaras e o Morro dos Cabritos, também em Copacabana (e Lagoa). Quanto a estas últimas, o Sr. governador mandou um recado: “Já estou avisando para os traficantes irem embora para não haver mais problemas”. Pergunte-se: Irem embora para onde? Para os morros da Tijuca? Ou os do Alemão? Vão permanecer soltos?” (www.jorgedasilva.blog.br/?p=786)

Num dos “posts” anteriores, cheguei a sugerir, mais como um alerta, que o sr. governador, o prefeito e o presidente do COB se mudassem por uns tempos para os subúrbios, com o que a integração social da cidade estaria garantida. Agora, trata-se de um apelo.      

 

A matéria do jornal não deixa dúvida de que o velho vezo de se empurrar os problemas (no caso, a violência e o crime) para a periferia continua vivo. Tem-se a impressão de que os moradores da AP2.1 (Zona Sul)  acreditam sinceramente na fórmula: o que é bom para a nossa área é bom para  toda a cidade (e para todo o Grande Rio…). Se assim for, a alternativa que resta – a quem puder – é mudar-se da Zona Norte, Niterói e Baixada para a AP2.1. Vou me embora pra Pasárgada, diria Drummond.

 

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“TOLERÂNCIA ZERO”. A VERDADEIRA HISTÓRIA E O MARKETING DE GIULIANI NO RIO

18 de janeiro, 2010    

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Leio na coluna do Ancelmo Gois (O Globo) que o governador Sérgio Cabral descartou a proposta de consultoria do ex-prefeito de Nova Iorque, Rudolf Giuliani (o da política de “tolerância zero”, que visitou o Morro Dona Marta em junho passado), em razão do alto valor cobrado, US$ 7,5 milhões. Fez bem o governador, menos pelo custo e mais pelo despropósito que seria contratar o edil de Manhattan, como se ele tivesse A SOLUÇÃO para a violência de qualquer lugar do mundo.     

 

Por estas bandas tupiniquins, tem-se como algo dado que Giuliani resolveu o problema da violência em Nova Iorque com uma panacéia infalível; e que, em sua gestão, a criminalidade teria sido reduzida em tantos e tantos por cento (cada um que conta aumenta um ponto…). Quem se der o trabalho de ir além da superfície, verá que não foi bem assim.

 

Houve um momento, década de 1980, em que Nova Iorque chegou ao fundo do poço. A criminalidade e a degradação do espaço público no centro da cidade tinham chegado ao limite. Dezenas de inferninhos e lojas pornô em Times Square e arredores; espeluncas em ruínas e muita prostituição nas ruas. Nem pensar em ir ao degradado bairro negro do Harlem. Em 1989 é eleito David Dinkins, do Partido Democrata, o primeiro negro a eleger-se prefeito da cidade. Este conclamou empresários de todo o País a que investissem em Nova Iorque, de vez que, alegava, aquela era uma cidade de todos os norte-americanos. A própria prefeitura passou a dificultar a concessão de alvarás para determinadas atividades, inclusive para as lojas de venda de bebidas fortes, os chamados “liquors”. E, efetivamente, espaços importantes foram comprados. No lugar dos inferninhos e das espeluncas, apareceram novas construções e lojas elegantes.

 

No que tange à segurança pública, Dinkins nomeou chefe de polícia a Lee P. Brown, outro negro (o dado, no contexto norte-americano, não é irrelevante…), conhecido hoje, mundialmente, como o “pai” da polícia comunitária, que recebeu a incumbência de mudar a forma discriminatória e repressivista como a força policial era empregada (Dinkins também tinha militância política no bairro negro do Harlem). Tem lugar então um amplo programa de reformulação da polícia, inclusive com a incorporação de novos quadros (cerca de 25% de aumento do efetivo em quatro anos). Fato: a curva estatística da criminalidade, que subia há mais de duas décadas, tem uma inflexão. Passa a cair já no segundo ano do seu mandato, e assim continuou mesmo depois que deixou o cargo. 

 

Acontece que Dinkins tinha vencido nas urnas o candidato Giuliani, do conservador Partido Republicano, e os seus opositores não o perdoavam. Então, apesar de a criminalidade haver baixado, e de a cidade vir melhorando a olhos vistos, os adversários o acusavam de ser fraco com o crime. Giuliani elegeu-se com esse discurso, e precisava de alguma coisa para mostrar aos seus partidários e simpatizantes. E veio o que se passou a chamar de “tolerância zero”, ou seja, a volta aos antigos métodos. Na verdade, tanto Dinkins e Brown quanto Giuliani e William Bratton, o chefe de polícia deste, beneficiaram-se do “boom” econômico verificado naquele País. A criminalidade, no período dos dois prefeitos, caiu de forma consistente em todos os Estados Unidos, fato atribuído pelo presidente Clinton – do mesmo partido de Dinkins – aos investimentos do governo em polícia comunitária  (cf. BLUMSTEIN, Alfred et al. The crime drop in America [Port. A queda do crime na América]. Cambridge / New York: Cambridge, 2000, p. 2). A Giuliani e Bratton deve-se reconhecer o mérito de terem sabido “surfar” na onda, o que fazem até hoje, com o apoio dos conservadores de todo o mundo. Se algo há de ser copiado deles é a estratégia de marketing. No nosso caso, dentre outras coisas, ficaria faltando a adesão que eles tiveram de setores conservadores da mídia…  

 

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CONSUL DO HAITI, BÓRIS CASOY, RICÚPERO E A CÂMERA INDISCRETA

15 de janeiro, 2010    

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Em “post” do dia 2 de janeiro, abaixo (“Bóris Casoy, os Garis e o Efeito Ricúpero”), fiz um alerta àqueles a quem chamei de “elitistas enrustidos”. O alerta agora vai além, ou seja, para os “elitistas-racistas enrustidos”. É que ontem, dia 14 de janeiro, o cônsul do Haiti em São Paulo, sem saber que as câmeras do SBT já estavam ligadas, foi acometido da mesma incontinência verbal de Bóris e Ricúpero. Deixou escapar o seu verdadeiro sentimento sobre o país e o povo que representa. Achou que era simplesmente um comentário privado, em “off”, com alguém que imaginava ser um dos seus. Disse: “A desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui, fica conhecido”. […] E desancou os haitianos e os seus costumes: “Acho que de, tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo… O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano lá tá f…”. (Cf. Revista Época, 15/01/2010). Clique, veja e conclua.  http://www.youtube.com/watch?v=8GOCjk4L7S0&feature=player_embedded

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ALTA CORRUPÇÃO E A TEORIA DAS “MAÇÃS PODRES” (IV)

12 de janeiro, 2010    

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Leio nos media que o deputado que foi filmado recebendo maços de dinheiro e os colocando nos bolsos e nas meias decidiu reassumir a presidência da Câmara Legislativa do Distrito Federal. É ele quem vai presidir a Casa durante a análise do pedido de impeachment do governador Arruda e a apuração de denúncias de corrupção contra ele e outros deputados. Idem durante os trabalhos da CPI da Corrupção. Uma das primeiras medidas do deputado-presidente foi proibir a entrada do público no prédio, alegando razões de segurança. Curioso que participarão das investigações até mesmo deputados envolvidos no escândalo e outros aliados do governador. Surrealismo puro…  A propósito, republico abaixo “post” sobre o tema em que falo de três tipos de reação à corrupção. Aí vai:

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ALTA CORRUPÇÃO E A TEORIA DAS “MAÇÃS PODRES” (III)

13 de dezembro de 2009

“COM A MÃO NA MASSA EM BRASÍLIA”

Este é o terceiro “post” que publico sobre a corrupção dos poderosos, com foco em fatos escabrosos acontecidos em Brasília. Neste, só quero chamar a atenção para um ponto, que tem a ver com a forma como os poderosos acusados de corrupção reagem em diferentes sociedades. Temos três tipos de reação: Em certos países, o poderoso flagrado em ato de corrupção se mata, com vergonha dos amigos, da família e da sociedade. Em outros, é considerado traidor do povo e da Nação, e é fuzilado. No Brasil, o poderoso pego com a mão na massa não se envergonha nem é considerado traidor do povo, e sim “maçã podre”, com o que todos os demais pares poderosos se salvam. Íntegros até um novo escândalo. Então, o acusado mostra-se, ele sim, indignado com a acusação, desafiando quem quer que seja a provar o provado. O corrupto é que fica indignado. Pergunto: por que é assim no Brasil?

Obs. Para ver os outros dois “posts” sobre o tema, é só clicar: 

http://www.jorgedasilva.blog.br/?p=85 e http://www.jorgedasilva.blog.br/?p=79.

Bem, por que no Brasil é assim? E o que se pode fazer para fugir à armadilha da teoria das “maçãs podres”?

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ENCOSTAS E “ENCOSTAS” (II)

9 de janeiro, 2010    

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Leio em O Globo desta sexta-feira duas manchetes de primeira página. Uma: Rio vai remover 119 favelas de áreas de risco em 2 anos. A outra: Angra ignorou ordens do TCE para demolir imóveis.

Não quero me repetir. Convido o amigo blogueiro a ler o “post” que publiquei esta quarta-feira sobre os deslizamentos e as mortes em Angra/Ilha Grande e na Baixada, que vai abaixo. Pergunte-se: E as mansões que se vêem nas encostas “verdes” ao longo da Orla do Rio de Janeiro? 

Sem mais comentários.

 

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ENCOSTAS CARIOCAS E “ENCOSTAS” DE ANGRA-ILHA GRANDE

6 de janeiro, 2010    

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Há trinta ou quarenta anos, uma das motivações para a remoção das favelas cariocas ainda era a sua feiúra, em contraste com a beleza da cidade. Daí as inúmeras remoções, procedidas desde o início da República. De uns tempos para cá, os reais motivos, entre eles a especulação imobiliária, cederam lugar a outra justificativa: os riscos que correriam os moradores de “áreas de risco”, razão pela qual seria necessário retirá-los dali e impedir que outros para ali fossem, o que se conseguiria com decretos, muros e cercas, ou seja, com a “lei e a ordem”. Enquanto isso, na Costa Verde, nas encostas e morros de Angra e Ilha Grande, na paradisíaca baía do mesmo nome, não haveria necessidade disso. Talvez o inverso, pois ali não haveria riscos…   

 

As chuvaradas do último fim de ano castigaram a capital, as favelas cariocas, a Baixada Fluminense e Angra-Ilha Grande. Mas, curiosamente, as tradicionais “áreas de risco” cariocas nada sofreram, pelo menos aparentemente. Mortes, mais de 70, ocorreram, em maioria, na Baixada e em Angra. Por que “lei e ordem” só num lugar? Por que “dez pesos (sic) e duas medidas?” No fundo, faz sentido… Alguém me convença do contrário. 

 

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BORIS CASOY, OS GARIS E O EFEITO RICÚPERO

2 de janeiro, 2010    

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ALERTA AOS ELITISTAS ENRUSTIDOS

 

 

O apresentador de TV Boris Casoy não sabia que o sistema de áudio continuava ligado depois que deu a última notícia do Jornal da Band. Logo após, como mensagem de fim de ano, dois garis, a caráter, desejam Feliz Ano Novo aos telespectadores. E a voz de Casoy, enquanto a vinheta de encerramento do Jornal toca, é ouvida: “Que merda…dois lixeiros desejando felicidades… do alto de suas vassouras… dois lixeiros!… o mais baixo da escala do trabalho”. Disse isso rindo e em tom de deboche (conferir em http://www.youtube.com/watch?v=f_E4j7vi3js). No dia seguinte, pediu desculpas no ar aos garis e à audiência. Faço meu o bordão do apresentador: “Isto é uma vergonha!”

 

Em 1994, fato idêntico. Às vésperas da eleição presidencial, o então ministro da Fazenda Rubens Ricúpero, enquanto aguardava para ser entrevistado num estúdio da Rede Globo, dizia o contrário do que iria dizer minutos depois na entrevista. O ministro estava empenhado na campanha do candidato FHC, centrada no Plano Real. Em dado momento da descontraída conversa com o jornalista Carlos Monforte, a propósito da variação das taxas do IPC-R, e sem saber que sua conversa estava sendo captada pela antena parabólica (Monforte, aparentemente, também não sabia), afirma: Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura, o que é ruim, esconde”.

 

Animado, se oferece: “Se quiser, neste fim de semana podia ver o negócio do Fantástico. […] Quem é que é? É o Alexandre? […] Para a Rede Globo foi um achado. Em vez de terem que dar apoio ostensivo a ele, botam a mim no ar e ninguém pode dizer nada. […] Essa é uma solução, digamos, indireta, né?” Igualmente, Ricúpero pediu desculpas, alegando que o que dissera não representava o seu pensamento.

 

Pergunte-se: qual dos Casoy é o verdadeiro, o da m. ou o da desculpa? E qual Ricúpero, o que confessa não ter escrúpulos ou o que diz que não queria dizer o que disse? Na verdade, estamos aí diante de algo comum na sociedade brasileira: a dupla personalidade, ou do que popularmente chamam de “duas caras”. Em público, o democrata altruísta; em privado, o elitista empedernido.

 

Elitista ou não, preconceituoso ou não (ninguém acha que é, nem eu…), é preciso cuidado. Hoje, além das parabólicas e sistemas de áudio “inteligentes” (a blindagem dos “meios” pode não contar com a adesão dos operadores…), existem as câmeras indiscretas em tudo quanto é lugar, as minicâmeras individuais, os aparelhos de escuta ambiental etc. No limite, é recomendável fazer como os mafiosos. Vão para um lugar ermo, e falam baixinho no ouvido um do outro, com o cuidado de colocar a mão sobre a boca para inviabilizar a leitura labial à distância.

 

Em qualquer caso, a saída é a franqueza, mesmo para assumir o elitismo. Elitismo não é crime.

 

  

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